Alcatrazes volta a ser alvo de tiros pela Marinha do Brasil
O arquipélago de Alcatrazes abriga o maior ninhal de aves marinhas do Atlântico Sul. Milhares delas, de 100 espécies diferentes, usam o arquipélago para se reproduzir. Entre outras, fragatas, atobás, gaivotões, três tipos de trinta-réis, um deles ameaçado de extinção. Além disso, Alcatrazes também foi palco de uma disputa de mais de 30 anos entre ambientalistas e a Marinha do Brasil que a escolheu como alvo de tiros de seus canhões em 1980. Durante 30 anos esta joia esteve fechada ao público até que, finalmente, em 2016 foi transformada em Refúgio de Vida Silvestre pelo então presidente Michel Temer.
A ilha da Sapata, alvo de tiros da MB
O Arquipélago, a aproximadamente 45 km de São Sebastião, é formado pela ilha principal, Alcatrazes; pelas ilhas da Sapata, do Paredão, do Porto e do Sul, além de 4 outras ilhotas, cinco lajes e dois parcéis.
A MB aceitou a transformação em unidade de conservação, contudo, impôs uma condição. A ilha da Sapata deveria ficar de fora para servir como alvo. Entre perder tudo, ou salvar a maior parte, os ambientalistas escolheram a segunda opção. Não obstante, cada novo tiroteio, como aconteceu em 2021, provoca polêmica.
No momento em que se discutem os reflexos da COP 26, e da COP 15, a COP da biodiversidade; em que o mundo condena o Brasil por quatro anos de descaso ambiental, especialmente na Amazônia, é inaceitável a falta de sensibilidade da Marinha em momento crítico de declínio da biodiversidade mundial.
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Nesse meio tempo começou a reação através de um ‘Manifesto Pela Preservação de Alcatrazes’ nas redes sociais. ‘O Litoral Norte recebeu com surpresa a informação de que a Marinha do Brasil realizará em agosto os famigerados exercícios de tiro na ilha da Sapata, arquipélago de Alcatrazes’.
A decisão detém duas surpresas negativas. A primeira é a de que tais exercícios não seriam procedidos senão no interregno entre os meses de novembro e abril. Assim ficou acordado em documento apresentado à Estação Ecológica Tupinambás, instituição responsável pela gestão desse território’.
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‘A segunda nefasta surpresa refere-se ao fato de que, neste mês de agosto, espera-se a possibilidade do avistamento de baleias, ou seja, da visitação desses animais ao nosso litoral por conta de sua migração de procriação’.
Agosto, período de reprodução das fragatas
Do mesmo modo, a escolha do período de tiros não poderia ser pior. Agosto é o mês da reprodução das fragatas e da chegada das baleias ao litoral paulista. Como se sabe, o litoral norte passou a ser cada vez mais frequentado pelas jubartes.
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Em tempo: na noite desta terça-feira as redes sociais reportaram que a MB adiou os tiros em razão dos protestos. Contudo, não achamos uma declaração da MB confirmando, mas uma declaração do vereador Fernando Puga (PT), S. Sebastião, autor do abaixo-assinado em suas redes sociais informando as novidade.
De todo modo, permanece a ameaça. A MB deve uma satisfação à opinião pública além do cancelamento definitivo desta barbaridade. Definitivamente, não há como justificar a continuidade dos tiros. O Mar Sem Fim assinou o abaixo-assinado. Assine você também, clique neste link e faça sua parte desse modo a MB não terá dúvidas do repúdio da sociedade.
Segue teor de nota oficial divulgada pelo ICMBio para a ação da Marinha Brasileira:
Devido à época reprodutiva das aves no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) orientou a Marinha do Brasil, por meio de ofício, pelo adiamento do exercício de tiro marcado para os dias 16 e 17 de agosto. Em resposta ao ICMBio, a Marinha do Brasil adiou a atividade agendada na região.